sábado, 24 de outubro de 2009

TOPA TUDO POR DINHEIRO NESSA UNIVERSIDADE (?)

Nota de Repúdio à falta de esclarecimentos a respeito da implantação do programa de formação de professores: Plataforma Paulo Freire





Vivemos tempos difíceis! Sim, o sabemos... Em pleno 2009 o capital continua nos engolindo. Priva-nos agora do direito conseguido há muito custo e com muita luta ao longo de tantas décadas, que é o de um ensino público de qualidade. A universidade pública, cada vez mais privatizada, está à beira da desqualificação tudo porque os gigantes agora são maioria, e os gigantes TOPAM tudo por dinheiro.

A década de 30 representou para a nação como um todo, o período em que a educação se tornou uma bandeira com o discurso republicano de que promoveria o progresso da nação. Os intelectuais da educação escreveram manifestos e difundiram campanhas em prol da criação de escolas e da erradicação do analfabetismo, sob a justificativa de que esse era o único caminho que salvaria a nação da miséria.

Em nossa cidade não foi diferente. Escolas foram criadas, professores exaltados, era o discurso da educação para todos que estava sendo veiculado através da imprensa, das escolas, da política e da comunidade como um todo.

E durante as décadas seguintes, apesar de se fundarem milhares de escolas e milhares de crianças, jovens e adultos estarem dentro da escola, o analfabetismo continuou triunfante no país. Porém, vestindo uma nova roupagem com novo sobrenome e trazendo a baila o não tão novo personagem de sempre: o analfabeto funcional.

Com o tempo, as discussões em torno da educação não giravam mais somente em torno da criação de escolas e erradicação do analfabetismo, embora isso também continuasse (e continua...) em pauta e em prol da qualidade do ensino. Jovens chegam para prestar vestibular e muitas vezes mal conseguem escrever corretamente seu próprio nome; ingressam nas universidades com dificuldades de formação consistente, frutos de uma bagagem escolar mal construída e de um sistema que, longe de formar cidadãos conscientes, criam produtos alienados para o mercado de trabalho. Vivemos em um país de analfabetos funcionais.

Como proporcionar um ensino de qualidade, atuar como intelectual, formador de consciências, transformador da realidade, se o espaço que deveria promover as condições materiais para a construção de uma bagagem cultural mais consistente e crítica, se divide entre aqueles que de fato se empenham e se preocupam com a formação de profissionais que atuem, sobretudo nos espaços escolares, de maneira crítica, com aqueles que simplesmente se deixam levar pelo individualismo crônico e doente de nossa “pós-modernidade” e de nossa querida máquina estatal? Como continuar inserindo a todo custo profissionais mal preparados nas salas de aula, que irão estampar um diploma forjado em aulas de finais de semana?

Não estariam aqueles que deveriam lutar veementemente contra isso vestindo a camisa com o slogan: “o problema não é meu”, com a desculpa de se criar condições para aqueles que já estão nas escolas e que não tem condições de ingressar na universidade? Aceitando o sucateamento do ensino, o que é um verdadeiro desrespeito à sociedade?

Por que não, lutarmos pela expansão adequada do ensino superior, ou seja, por uma expansão que mantenha sua essência enquanto lócus da construção do conhecimento pautado no ensino, na pesquisa e na extensão?

Os docentes da universidade criticam na sala de aula a forma como o sistema de ensino público brasileiro trata a educação tornando-a um negócio (com os belíssimos programas do governo, com o eficientíssimo Topa, com o eficientíssimo Ciclo, com a eficácia de nossa educação de jovens e adultos). Como agora, aceitam cursos modulares que formarão pedagogos em aulas de finais de semana...? Ou seja, passamos quatro anos na universidade, estudando cotidianamente, presencialmente e a nossa formação é do jeito que é, o que diriam então nossos colegas que se encontrarão nos finais de semana?

Será que voltamos aos tempos do Mobral? Vamos formar em larga escala, massas de manobra, construtos do capital que nos engole a cada dia com suas políticas de apaziguamento superficial? O belo quadro da realidade das escolas públicas do país e de Vitória da Conquista invadiu a universidade e são os nossos mestres que estão defendendo essa bandeira? Aqueles que deveriam lutar contra isso, estão lutando em prol da reprodução de uma má qualidade de ensino, e por sua vez, de uma desigualdade social, que avassala o país de maneira covarde e desumana, que será perpetuada através de uma maquiagem e de um discurso alienante em prol da capacitação profissional, contra o desemprego, mas que por debaixo do pano é propulsor do analfabetismo funcional? Tudo por quê? Por que os gigantes agora são professores que se armam com a teoria, para mutilar consciências e que se vendem de maneira corrupta para a selvageria que vemos cotidianamente na formação de nosso belo quadro social?

Por isso perguntamos: O que é o programa: Plataforma Paulo Freire? Alguém sabe? Como foi discutido? Quem está por detrás? Foi proposto por quem? Funciona como? Quais são os benefícios e prejuízos a curto e longo prazo para a educação e para a formação dos professores? E aqui em Vitória da Conquista, na UESB, como isso procederá? Como a coordenação local foi composta?

Cabe aqui indagarmos, será a plataforma Paulo Freire como outros programas financiados pelo Banco Mundial, que visam à descaracterização da universidade pública levando cada vez mais ao seu empobrecimento, com a mutilação do tripé ensino – pesquisa - extensão, através do aligeiramento da formação de professores, visando apenas um treinamento e não a sua efetiva formação?

Não estamos aqui nos posicionando contra, nem a favor; o que não aceitamos é esse silêncio, essa falta de debate, que nos empurra goela abaixo determinações que vem de cima, sem o mínimo diálogo e respeito.

Deixamos aqui registrados, nesse simplório manifesto, a nossa indignação e repúdio, a esse silêncio e essa falta de esclarecimento. Pois agora nós sabemos quem são esses gigantes... E não permitiremos que nos amordacem.



QUEREMOS DISCUSSÕES SEM FAVORITISMOS A FAVOR OU CONTRA. QUEREMOS O DEBATE ABERTO! TEMOS QUE LUTAR POR UMA FORMAÇÃO DECENTE!



Centro Acadêmico de Pedagogia Paulo Freire
Coletivo de Estudantes Universitários  Conquistense

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